Dados divulgados pelo Butantan na semana passada haviam mostrado que a Coronavac tem eficácia de 78% em casos leves de covid-19, em que os pacientes necessitaram de atendimento médico, mas não a ponto de internação. O instituto também havia divulgado eficácia de 100% em casos graves e moderados, protegendo assim contra mortes e complicações mais severas, embora esse índice tenha sido calculado com base em apenas sete pacientes que desenvolveram esse quadro da doença, todos do grupo que tomou placebo, e não a vacina.
O número é considerado pequeno para uma análise final, e mais casos deverão ser analisados. Na semana passada, contudo, o Butantan não chegou a divulgar a taxa de eficácia global, nem os dados completos dos testes clínicos realizados no Brasil. Isso acabou gerando desconfiança na comunidade científica, uma vez que não seguiu os mesmos protocolos de outros laboratórios desenvolvedores de vacinas contra a covid-19.
Apesar de mais baixa do que a registrada por imunizantes
como o da Pfizer-Biontech e da Moderna, a eficácia geral da Coronavac está
acima dos 50% requeridos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
e recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Nenhum dos participantes do grupo precisou de
hospitalização. O dado geral está dentro do cumprimento das exigências da
Organização Mundial da Saúde. A vacina tinha que ter uma menor eficácia nos
casos mais leves e maior eficácia nos casos graves. Temos uma vacina que
consegue controlar a pandemia, que é a diminuição da intensidade da doença
clínica", afirmou Ricardo Palácios, diretor da pesquisa no Instituto
Butantan, em coletiva de imprensa.
A cifra de 50,38% inclui pessoas que foram infectadas pelo coronavírus mas não apresentaram sintomas que requeressem atenção médica, durante o estudo de fase 3 realizado pelo Butantan. O índice tem como base o registro de 252 casos de infecção por covid-19 ao longo dos testes, sendo que 85 desses voluntários receberam a Coronavac, e o restante, placebo. Os casos variaram de muito leves a graves. Todos os participantes foram testados após o estudo.
Aval da Anvisa
Na sexta-feira passada, o Butantan entrou com pedido de registro emergencial da vacina na Anvisa, que tem até dez dias para fazer a análise dos dados e responder se autoriza seu uso. No dia seguinte ao pedido, a agência reguladora afirmou que o Butantan entregou documentação incompleta sobre os testes realizados no país e pediu mais informações.
De acordo com um painel de acompanhamento disponibilizado pela Anvisa na internet, a agência concluiu 40,7% da análise da documentação enviada, e 37,64% ainda estão pendentes de complementação. Outros 16,19% estão em análise, e 5,47% da documentação não foi apresentada. Também no fim de semana, o Ministério da Saúde anunciou que a vacinação contra a covid-19 ocorrerá de forma simultânea em todo o país, com distribuição proporcional de doses entre os estados. Contudo, ainda não há data prevista para o início da imunização.
A pasta fechou um acordo com o Butantan para que todas as doses da Coronavac produzidas pelo laboratório sejam compradas com exclusividade pelo governo federal e distribuídas simultaneamente aos estados por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Na segunda-feira, a Coronavac foi aprovada para uso emergencial na Indonésia, onde os testes apontaram uma eficácia global de 65,3%. Já no estudo realizado na Turquia a vacina apresentou eficácia global de 91%. A diferença nos dados de país para país é considerado normal, uma vez que a vacina não foi aplicada à mesma população.
Guerra das vacinas
O anúncio de hoje deve finalmente encerrar as dúvidas sobre
a eficácia geral do imunizante. Desde a metade de dezembro, o Butantan e o
governo paulista vinham informando apenas recortes, evitando indicar a eficácia
global. A estratégia de comunicação sobre a Coronavac e seguidos adiamentos na
divulgação da eficácia geraram críticas.
Os problemas também serviram de combustível para ofensiva
do presidente Jair Bolsonaro contra o imunizante promovido pelo seu desafeto
político, o governador paulista João Doria. Mas a situação parecia ter se
acalmado após o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ter anunciado que o
governo federal pretende comprar 100 milhões de doses da Coronavac. Tal como o
governo paulista, o ministério apostou inicialmente todas as suas fichas em
apenas um imunizante, a chamada vacina de Oxford. No entanto, até agora, o
governo federal não tem nenhuma dose em seus estoques e ainda não há uma
definição de quando a imunização vai começar.
Mesmo com o governo federal acumulando problemas com sua
iniciativa de vacinação, figuras próximas do presidente zombaram nesta
terça-feira do anúncio da eficácia da Coronavac, num sinal de que o governo
pode voltar a tentar enfraquecer os esforços de São Paulo. O assessor de
assuntos internacionais de Jair Bolsonaro, Filipe G. Martins, chamou a
Coronavac de "vacina xing ling”, um termo usado para produtos falsificados
com origem na Ásia.
https://www.bbc.com/portuguese/geral-55639246
Com informações da DW Brasil.
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