Segundo a análise, enquanto a adoção de um conjunto de
medidas foi responsável por reduzir significativamente para perto ou mesmo
menos de 1 o número de reprodução, o relaxamento das políticas de contenção —
inclusive a reabertura das escolas — teve efeito inverso. Essa é a primeira vez
que se quantifica globalmente o reflexo do abandono das ações de isolamento.
Os autores do levantamento descobriram que, quatro semanas
depois de acabar com a proibição de aglomerações, houve aumento de 25% do R. A
volta às aulas associou-se a uma elevação de 24% na probabilidade de o novo
coronavírus se propagar, após 28 dias.
Os dados foram calculados com medidas adotadas pelos 131
países analisados, desde 1º de janeiro (quando poucos tinham alguma ação contra
covid, até então, acreditava-se, restrita à China) a 20 de julho. O cronograma
de cada nação foi dividido em fases individuais, para refletir com precisão as
políticas de contenção, que variaram muito entre elas. No total, foram 790
etapas avaliadas no estudo estatístico. O modelo considerou o procedimento de
adotar ou relaxar as políticas até 28 dias depois.
“Os resultados da nossa análise principal apontam para uma
tendência decrescente do índice de reprodução viral nas duas primeiras semanas
depois do fechamento das escolas, dos locais de trabalho, da proibição de
eventos públicos, da permanência em casa e nos limites de circulação de
pessoas”, diz Harish Nair, da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, um dos
autores do estudo.
Individualmente, a medida mais efetiva nesse sentido foi
banir aglomerações com mais de 10 pessoas. Na primeira semana, o R era 0,9.
Esse número caiu para 0,76 no 28º dia. Nair ressalta que a combinação de quatro
medidas — fechamento de escolas e locais de trabalho, proibição de eventos
públicos/aglomerações, pedidos para que as pessoas ficassem em casa e limitação
de deslocamento pelo país — foi a mais eficaz para reduzir o número de
reprodução do coronavírus. “Juntas, elas reduziram o R em 52%”, afirma.
Se as medidas restritivas ajudaram a conter a propagação do
Sars-CoV-2, o relaxamento das ações afetou “substancialmente” o R, segundo
Nair. “Nossos resultados também sugerem que, dentro de 28 dias, revogar a
proibição de eventos públicos pode aumentar a transmissão em 21%, e suspender a
proibição de reuniões com mais de 10 pessoas pode elevar em 25%”, cita.
Aulas
Sobre as escolas, cuja reabertura significou um crescimento de 24% no potencial de contágio, o pesquisador da Universidade de Edimburgo é cauteloso. De acordo com ele, a análise estatística não consegue discriminar as diferentes medidas exigidas por cada país para a volta às aulas, como o limite do tamanho das turmas, as rotinas de descontaminação e o uso de termômetro na entrada do colégio.
“Apesar de algumas limitações do número de reprodução, que
não pode ser interpretado como uma bola de cristal, o estudo nos mostra quais
medidas restritivas funcionam e quais funcionam melhor, uma informação crucial,
considerando que algumas dessas ações têm efeitos socioeconômicos massivos”,
avalia o epidemiologista Chris T. Bauch, da Universidade de Waterloo, no Canadá,
que não participou do estudo. “Além disso, acho que o R fornece uma utilidade
social que os epidemiologistas podem nem pensar tanto a respeito: o sucesso de
medidas em grande escala requer adesão da população, e o R pode estimular as
populações a agir de forma cautelosa, para evitar a transmissão”, considera.
Autor de um estudo que avaliou como o relaxamento das
medidas restritivas afetou estados norte-americanos, Steven Woolf, diretor do
Centro de Estudos sobre Sociedade e Saúde da Universidade da Virgínia, destaca
que abandonar as ações muito cedo pode custar vidas. “Estados como Nova York e
Nova Jersey, que foram duramente atingidos no início, foram capazes de dobrar a
curva e reduzir as taxas de mortalidade em menos de 10 semanas. Enquanto isso,
estados como Texas, Flórida e Arizona, que escaparam da pandemia no início, mas
reabriram cedo, mostraram um aumento prolongado de propagação da doença, que
durou de 16 a 17 semanas, e ainda estava em andamento quando nosso estudo
terminou”, compara.
Woolf admite que não é possível provar que a reabertura
antecipada levou à nova onda. “Mas, parece bastante provável. A manutenção de
medidas, como uso de máscara e distanciamento social, é muito importante se
quisermos evitar esses surtos e grandes perdas de vidas”, observa.
Para Harish Nair, da Universidade de Edimburgo, o estudo
publicado na The Lancet será útil para orientar governos sobre a
readoção ou endurecimento das ações já em curso. “Como experimentamos um
ressurgimento do vírus, os legisladores precisarão considerar combinações de
medidas para reduzir o número R. Nosso estudo pode informar as decisões sobre
quais medidas introduzir ou retirar, e quando esperar para ver seus efeitos,
mas isso também vai depender do contexto local”, ressalta.
Efeito do sistema imunológico
Os sintomas relatados na fase aguda da doença incluem, por exemplo, delírio, alterações de personalidade e problemas de memória, todos sinais de comprometimento ou falha do cérebro. Esses sinais ocorrem com mais frequência em casos mais graves e geralmente são temporários. Até o momento, não está claro se o Sars-CoV-2 tem a capacidade de infectar o cérebro e o sistema nervoso central diretamente.
Por outro lado, nenhum impacto foi observado nos marcadores de dano à barreira hematoencefálica, produção local de anticorpos ou aumento da contagem de leucócitos, que são comuns em infecções virais no sistema nervoso central, indicando que o vírus não entrou no cérebro.
“É uma prioridade urgente para nós
aprendermos mais sobre como a covid-19 afeta o sistema nervoso, principalmente
para que possamos determinar quais tipos de tratamento podem ser adequados para
neutralizar ou mitigar os efeitos da doença no cérebro, tanto na fase aguda
quanto em longo prazo”, diz Arvid Edén, principal autor do estudo.
Com informações do Correio Braziliense.
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