O
soro foi obtido a partir do plasma de cavalos, animais utilizados
frequentemente para a produção de substâncias antiofídicas. Para que o
organismo dos equinos reconhecessem o Sars-CoV-2 sem a necessidade de eles
serem infectados, os pesquisadores produziram uma proteína semelhante à spike.
Essa estrutura, em formato de espinho, fica na parte externa do vírus e é uma
peça-chave na infecção porque, ao se ligar a um receptor na membrana da célula
hospedeira, facilita a entrada do micro-organismo no núcleo, onde ele começa a
se reproduzir. Por isso, a spike é um dos principais alvos de vacinas e
tratamentos para a covid-19.
No Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares do Instituto
Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), uma equipe coordenada por Leda Castilho
conseguiu produzir uma proteína — a S —, que se assemelha à spike. “Ela
mostrou-se muito efetiva para estimular a produção de anticorpos em cavalos,
com uma quantidade muito maior do que a encontrada em humanos que já contraíram
a covid-19”, conta a cientista. De acordo com a pesquisadora, como ainda não há
tratamento específico para a doença, os anticorpos produzidos pelos animais
representam uma esperança de terapia para os pacientes.
Os testes, que envolveram pesquisadores de diversas
instituições do Rio e tiveram financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Rio de Janeiro (Faperj), começaram em 27 de março, na Fazenda Vital
Brazil, em Cachoeiras de Macacu, no interior fluminense. Cinco cavalos foram
inoculados com a proteína S e, a cada semana, os cientistas faziam exames de
sangue para detectar os níveis de anticorpos produzidos. O presidente do
Instituto Vital Brazil, órgão do governo do Estado do Rio, e um dos
pesquisadores, Adilson Stolet, conta que o processo é seguro e não coloca os
equinos em risco. “Já fazemos o soro contra a raiva, por exemplo, que também é
um vírus”, exemplifica. “O experimento com o plasma dos cavalos permite que o
tratamento seja produzido em grande escala. Os animais não sofrem com a
retirada de plasma”, afirma.
Jerson Lima, presidente da Faperj e um dos autores do
estudo, apresentou, ontem à noite, o resultado aos colegas da Academia Nacional
de Medicina. No evento, transmitido on-line, ele disse que, depois do sétimo
dia de inoculação, a resposta imune dos cavalos foi pouca. “Após a segunda
inoculação, aumentou e, à medida que as semanas se passaram, foi algo
impressionante. No 42º dia, havia perto de 1 milhão (de anticorpos produzidos).
Fiquei com inveja porque tive covid-19 e nunca produzi anticorpos”, brincou.
Testes clínicos
O experimento durou 70 dias. “O próximo passo era verificar
se esses anticorpos se mantinham depois que o plasma fosse processado”,
relatou. Ao ser retirado dos animais, o sangue tem de ser purificado, e os
anticorpos, isolados, um processo que pode perder parte das proteínas
produzidas. “Vimos que, mesmo com o plasma processado, conseguimos quantidades
acima de 100 mil.” Segundo Lima, a “questão de um milhão de dólares” foi saber
se essas substâncias conseguiriam neutralizar o vírus. “Foi surpreendente
verificar a alta capacidade de inativação do Sars-CoV-2”, comemorou.
Assim como Vital Brazil fez há 101 anos, a equipe de
pesquisadores já patenteou a tecnologia e está em fase de organização dos
testes clínicos, que dependem da aprovação da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde. O cientista contou que a
capacidade de produção dos anticorpos e do soro é alta. Atualmente, há 10
cavalos para essa pesquisa no Instituto Vital Brazil. Enquanto o órgão pode
processar grandes quantidades de plasma, o Coppe da UFRJ também fabrica a
proteína S em larga escala.
Com informações do Correio Braziliense.
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