“Era perfeitamente possível não termos chegado a 100 mil
mortes. Provavelmente se tivéssemos continuado com a gestão do nosso primeiro
ministro de saúde [Luiz Henrique Mandetta] a conduzir a pandemia, na época em
que tínhamos um. A partir do momento em que você assume nacionalmente o
negacionismo da ciência, da doença e da pandemia, com certeza esse cenário se
torna inevitável”, afirma a bióloga Natália Pasternak, fundadora do Instituto
Questão de Ciência.
Sem reconhecer a dimensão da crise, fica difícil enfrentá-la.
Ao mesmo tempo em que negava a gravidade da epidemia, chegando a ocultar dados, o governo de Jair Bolsonaro
apostou em pautas diversionistas, estratégia usada pelo bolsonarismo também em
outras áreas.
Na noite de quinta-feira (6), o presidente mencionou,
durante uma live, o número trágico. “A gente lamenta todas as mortes, está
chegando ao número de 100 mil talvez hoje, é isso? Mas vamos tocar a vida,
tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema”, afirmou.
Segundo Pasternack, “há um contrassenso” na postura do
presidente. “Você nega a doença, mas ao mesmo tempo apresenta uma cura
milagrosa. E essas curas milagrosas tiram a atenção dos problemas reais porque
se somam ao discurso de que o ‘problema já nem existe, mas mesmo que exista, tá
aqui a solução, então vida normal, nada está acontecendo’ e ainda se investe
dinheiro público e a esperança das pessoas. Então você desinforma, deseduca a
população e desperdiça recursos públicos com coisas que não funcionam”, afirma,
referindo-se à obsessão do governo Bolsonaro com medicações como a cloroquina.
Desde o início da pandemia, o presidente adotou uma postura
negacionista. Enquanto a comunidade científica enfatizava a importância do
isolamento social para frear o ritmo de transmissão do SARS-CoV-2, Bolsonaro
encampou o discurso de que era preciso “salvar empregos”. O fechamento do
comércio nas cidades passou a ser tratado como uma disputa política, em um
falso dilema entre economia e saúde.
A mesma polarização foi adotada pelo governo em outra
frente: respostas milagrosas, que prometiam uma cura. Ainda que após 7 meses da
descoberta do vírus ainda não haja vacina ou um remédio com uso comprovado
cientificamente para tratar a covid-19, o governo Bolsonaro adotou a cloroquina
como bandeira. A distribuição do medicamento que aumenta o risco cardíaco e é
ineficaz contra o novo coronavírus ultrapassou 5 milhões de comprimidos, de acordo com o
Ministério da Saúde. No âmbito municipal, um fenômeno semelhante ocorreu com a
distribuição de ivermectina pelas prefeituras.
A pressão pela adoção de medidas na contramão da ciência
levou à saída de 2 ministros da Saúde: Luiz Henrique Mandetta, em 16 de abril,
e Nelson Teich, em 15 de maio. Desde então, a pasta que deveria ser
protagonista na resposta à pandemia é coordenada por um interino, o general
Eduardo Pazuello, sem experiência na gestão de saúde pública.
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Com informações do HuffPost Brasil.
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