A 1.586km ao sul, a geneticista Patricia Valeria Blanco,
47, ficou com a voz embargada ao falar à reportagem. “A vacinação é um evento
de suma importância, pois passamos tempo demais em meio a essa pandemia. Eu
agradeço profundamente ao meu governo por essa gestão e a Deus pela
oportunidade de vacinar-me”, disse a funcionária do Hospital Zonal Ramón
Carrillo, de San Carlos de Bariloche, na província de Rio Negro. A
infectologista Carolina Subirá, 36, foi a segunda pessoa a receber a dose da
vacina na província de Santa Fé. “Foi um grande luxo, uma grande alegria. Nós
esperávamos por isso com muita ansiedade”, comentou a moradora de Rosário
(Santa Fé), que trabalha no Sanatório Parque.
Com 1,5 milhão de casos de infecção pelo Sars-CoV-2
confirmados e 42.868 mortes, a Argentina começou, às 9h de ontem (hora de
Brasília), uma grande campanha de vacinação, tornando-se o quarto país
latino-americano a imunizar a população contra a covid-19, depois do México, da
Costa Rica e do Chile. Também é a terceira nação do mundo a inocular os
cidadãos com o imunizante produzido pelo laboratório russo Gamaleya, depois da
própria Rússia e da Bielorrússia. Uma nova dose da vacina será aplicada em 21
dias.
O governo de Alberto Fernández mobilizou 166 mil
enfermeiros em 7.749 estabelecimentos, além de 10 mil voluntários. Entre
janeiro e fevereiro, mais 20 milhões de doses chegarão à Argentina. A Sputnik V
é recebida com ceticismo. Segundo o jornal La Nación, um relatório da diretoria
da Administração Nacional de Medicamentos, Alimentos e Tecnologia Médica
(Anmat), na Argentina, afirma que três adultos com mais de 60 anos, voluntários
na fase 3 dos testes clínicos, sofreram graves efeitos adversos. “Cólica renal,
trombose venosa profunda e abscesso de membro causado por um corte de unha
infeliz”, comentou Denis Logunov, vice-diretor do Gamaleya, ao justificar os
danos colaterias.
“Hoje, começou, em todo o país, a campanha de vacinação
contra a covid-19, a maior de nossa história. Depois de tanto esforço, demos o
primeiro passo para deixar para trás a pandemia, mas ainda falta muito.
Enquanto nos vacinamos, sigamos nos cuidando”, afirmou a Casa Rosada, sede da
Presidência. “A ideia é começar a vacinação com os que estão mais expostos ao
risco. É realmente épico fazer a maior campanha de vacinação da Argentina com
igualdade de acesso”, declarou o ministro da Saúde, Ginés González García, a
quem coube dar o “pontapé” no processo, no Hospital Posadas, em Buenos Aires.
“Meu compromisso é o de transmitir confiança em relação à
campanha de vacinação. Não importa o imunizante usado, a covid-19 transcendeu
todas as fronteiras. A vacina também deveria fazê-lo”, disse Carolina Subirá.
Ela lembrou que a imunização não pertence a um país ou a outro. “É o esforço de
milhares de cientistas. É a ciência colocada a serviço da humanide. Ser
beneficiada pelas primeiras doses me dá grande felicidade. Eu a tomei de bom
grado, com alegria”, acrescentou a infectologista, que relatou ter sentido
apenas uma dor leve localizada e, depois de algumas horas, sensação febril e
mialgias (dores musculares). Ela descarta temores sobre a Sputnik V e lembra
que o imunizante foi submetido a testes clínicos exigentes.
Para Fabiana Geliberti, o que mais a comove durante a
pandemia da covid-19 é a exigência de isolar-se os pacientes. “Emociona-me o
fato de os pacientes morrerem sozinhos, distantes dos familiares. Tomara que
essa etapa da pademia tenha passado”, desabafou. Por sua vez, Patricia Blanco,
que trabalha diretamente com testes de diagnóstico PCR para covid-19, admitiu que
confia mais na Sputnik V e na vacina da AstraZeneca por usarem a tecnologia de
adenovírus modificado, em detrimento dos imunizantes da Pfizer/BioNTech e da
Moderna, baseadas em RNA mensageiro.
Com informações do Correio Braziliense.
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