Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
(do inglês, USDA), o envio das sementes pode estar ligado a um esquema de fraude virtual chamada de brushing (algo como
"varrer" ou "espalhar", neste contexto, em inglês). Ele
funciona por meio de contas falsas criadas em sites de vendas internacionais
com dados furtados de usuários ao redor do mundo.
O especialista em segurança da internet e professor da
Universidade do Vale do Itajaí (Univali) Fabrício Bortoluzzi explica que nesse
tipo de fraude os golpistas usam dados de usuários para fazer compras em suas
próprias lojas. Eles utilizam as contas fantasmas para escrever boas avaliações
pós-venda e assim aumentar a classificação positiva dos seus produtos em sites
de e-commerce.
"É importante dizer que sites de comercio eletrônico
do tipo marketplace (Como Mercado Livre, E-bay e Alibaba, por exemplo) não são
uma única empresa responsável pela venda ao consumidor. Então, quando
a gente vai em um site desses fazer uma compra, os primeiros resultados a
aparecer não são necessariamente os que mostram os itens mais baratos, mas
aqueles que a plataforma mais confia. E essa confiança é montada ao longo do
tempo, com base em um sucesso histórico de vendas", detalha o professor.
O professor explica que a prática de criar perfis fantasmas
para avaliar compras em sites não é nova. No entanto, os fraudadores só
passaram a enviar os produtos depois que as plataformas de marketplace
começaram a conferir se as mercadorias eram realmente entregues ao consumidor.
"Para evitar o mau uso do serviço, as plataformas
passaram a conferir os códigos de rastreamento postal antes de decidir se uma
compra é verdadeira ou não, então os fraudadores incluíram o despacho real
desses produtos. Assim, os Correios marcam a mercadoria como entregue e só
assim a compra pode ser qualificada e estrelada", explica.
Por que enviar sementes?
A semente, no caso, apenas cumpre a finalidade de não
deixar o pacote vazio. Elas são leves, o que diminui o valor do frete. Isso
explicaria por que as autoridades até agora não encontraram sinais de tentativas de bioterrorismo.
Mesmo assim, as sementes ainda são consideradas perigosas pelas autoridades
brasileiras, que recomendam que elas não devem ser manuseadas,
plantadas ou descartadas em lixo comum.
Na última terça-feira (6/10), as Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou o primeiro resultado das análises
laboratoriais dos pacotes misteriosos. As análises, realizadas no Laboratório
Federal de Defesa Agropecuária em Goiás, identificaram a presença de três
fungos diferentes em 25 amostras, de possibilidade de pragas que não existem no
Brasil em quatro amostras e bactéria em duas amostras. Os resultados mais
detalhados devem ser divulgados em 30 dias.
Sementes misteriosas no Brasil
Até o momento, foram confirmadas 258 pacotes de sementes
misteriosas em 24 estados e no Distrito Federal. Maranhão e Amazonas foram os
únicos estados que ainda não registraram nenhum recebimento. O primeiro pacote
de que se tem notícia chegou a um morador da cidade de Jaraguá do Sul, norte do
estado de Santa Catarina. A pessoa realizou a compra de um objeto de decoração
por meio da internet e, ao receber a encomenda, recebeu também outro pacote
contendo duas embalagens com as sementes.
Quais espécies foram identificadas?
No balanço preliminar do Ministério da Agricultura, foram
identificadas sementes de suculentas, rosas, orquídeas, limão, cerejeiras e
duas espécies ainda não identificadas. Todos os pacotes recolhidos pelas
autoridades brasileiras estão sendo catalogadas e a intenção é saber se as
sementes oferecem risco à saúde e agricultura. O trabalho laboratorial não
tem data para acabar, mas os resultados mais detalhados do estudo devem ser
divulgados em novembro.
De acordo com a USDA, dos Estados Unidos, as sementes
recebidas no país também incluíam repolho, rosas, mostarda e menta. Em tese, as
espécies não ofereceriam perigo, mas há o temor de que elas carreguem pragas
que possam se alastrar em novo território.
Recebi um pacote misterioso da China, o que devo fazer?
As pessoas que receberem os pacotes devem mantê-los
fechados e entrar em contato com o Mapa ou
entidade estadual de agricultura. No Distrito Federal, também é possível
contatar a Secretaria de Agricultura por meio do telefone (61) 3051-6300 ou
e-mail ouvidoria@seagri.df.gov.br. O órgão fica localizado no Parque Estação
Biológica, na Asa Norte.
Alguém já plantou as sementes?
A curiosidade do fazendeiro Doyle Crenshaw, da cidade de Booneville, no Arkansas (EUA), falou mais alto que o apelo das autoridades. Ao receber o pacote com as sementes, ele as plantou em uma horta em sua propriedade. Após fertilizá-las por algumas semanas, as sementes se transformaram em uma planta que "cresce loucamente". Preocupadas, as autoridades sanitárias do Akansas ficaram em alerta decidiram remover as plantas da propriedade por medidas de segurança.
Por que é perigoso plantar ou jogar as sementes no lixo
comum?
Plantar sementes exóticas implica em riscos biológicos,
econômicos e até sociais para o país. O Ministério da Agricultura ressalta que
inserir as espécies no bioma pode afetar a produtividade agrícola, dificultar o
controle de plantas daninhas, atrair insetos e pragas, e contaminar o solo com
fungos e bactérias. No lixo comum ou em corpos d'água, é possível que as
sementes, com o tempo, encontrem condições ideais de desenvolvimento e cresçam
sem qualquer notificação ou controle das autoridades.
Com informações de Hellen Leite.
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