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STJ determina prisão domiciliar de Queiroz atendendo alegação de que o coronavírus pode comprometer saúde do investigado



O ex-assessor Fabrício Queiroz, que atuou até 2018 no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro, conseguiu através de habeas corpus sua transferência para o regime de prisão domiciliar. O benefício foi concedido nesta quinta-feira (9) pelo ministro João Otávio de Noronha, presidente do Superior Tribunal de Justiça.



O argumento da defesa menciona a saúde do investigado sob a ótica da pandemia do novo coronavírus. Advogados apontam que o ex-assessor é "portador de câncer no cólon e se submeteu à cirurgia de próstata" há dois meses. 



Queiroz foi detido em junho, encontrado no escritório do advogado Frederick Wassef em Atibaia, interior de São Paulo. Ele é investigado por supostamente gerir um esquema de "rachadinha" (confisco e repasse de parte dos salários dos funcionários do gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Em casa, Queiroz segue proibido de fazer contato com outros investigados, e deverá utilizar tornozeleira eletrônica.

 

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O tristemente famoso Queiroz conseguiu prisão domiciliar e levou consigo sua mulher. Fora o fato curioso de saber “onde vai ficar Queiroz”, afinal, qual é mesmo o domicílio dele? Ecoando o bordão que povoou por meses a sociedade – “onde está o Queiroz?” –, uma discussão se impõe. Se as condições para merecer uma domiciliar e sair do presídio estavam presentes para ele (idade, problemas de saúde, pandemia da covid-19 e outros requisitos), é necessário perguntar: e para os milhares e milhares que, como ele, estão esquecidos nas masmorras?



A decisão foi estendida para a mulher do Queiroz, a qual estava foragida, reavivando um importante e coerente precedente de respaldo constitucional que a fuga não é motivo para manter uma preventiva. Precisamos superar a jurisprudência punitiva, até lembrando Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo. E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares”.



É hora de todos os operadores do direito e a sociedade, que está mobilizada no combate ao caos, exigirem que esta decisão seja o padrão para todos esses pedidos que estão esperando decisão dos juízes brasileiros. A dimensão da decisão coloca a seguinte questão: se vier a ser só para o Queiroz e sua esposa, o Poder Judiciário sairá diminuído. Penso que estão presentes os requisitos para a domiciliar. E essa jurisprudência no sentido de que o cidadão não pode não se entregar para discutir a legalidade da ordem de prisão é abusiva e contrária a vários princípios constitucionais.



Contudo, é necessário que o Poder Judiciário se apresente para a sociedade, que está atenta. O tal Queiroz parece ser peça chave para desvendar sérios e graves crimes. A sua prisão, em situação no mínimo intrigante, fez o quase milagre de emudecer o Presidente e seu entorno. Uma significativa mudança se operou no governo após a prisão desse personagem estranho. E até as pedras de Brasília sussurravam que o Queiroz preso era um risco. Mas não será por isso que vou deixar de reconhecer que os requisitos da sua prisão, neste momento, não se sustentavam.



Mas esta decisão tem que ter consequências. Se fosse uma prisão domiciliar ad hoc, sob encomenda para o Queiroz e sua esposa, sairia menor o Poder Judiciário. Me lembra Pessoa na pessoa de Bernardo Soares no imortal o Livro do Desassossego: “Ergo-me da cadeira com um esforço monstruoso, mas tenho a impressão de que levo a cadeira comigo, e que é mais pesada, porque é a cadeira do subjetivismo”.



Esta tem que ser uma decisão que se estenda imediatamente a todos que estão nessas condições no sistema penitenciário. E ir além, abrir as portas que sempre têm várias chaves, a chave que destranca os poderosos é, às vezes, a mesma que serve para trancar, ou manter presos, aqueles que não conseguem se fazer ouvir. Sei que defender a soltura do Queiroz comporta uma série de críticas, mas fico com o –muitas vezes incompreendido– Paulo Leminski: “Isto de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além”.

 

 

 

 

Com informações do Metro Jornal / Kakay (Poder 360).

       



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