Na impossibilidade de promover uma grande testagem, o
Ministério da Saúde intensificou discussão com secretários estaduais e
municipais para ampliar a forma de diagnosticar casos da Covid 19. Existe a
possibilidade de adoção da chamada "vinculação epidemiológica".
Por esse modelo, médicos e autoridades de saúde poderiam
notificar o caso de infecção pelo novo coronavírus por meio do histórico de
exposição ao vírus e da análise dos sintomas e com exames ambulatoriais, como
radiografias e tomografias. Ou seja, não haveria aplicação de testes.
A testagem, portanto, seria aplicada apenas para uma
parcela dos brasileiros. Os profissionais da saúde e gestores definiriam, por
amostragem, os grupos e casos que deveriam realizar os testes. Embora a proposta não seja nova, o assunto foi retomado
recentemente, segundo informou um servidor do Ministério da Saúde. Os debates
se intensificaram entre a pasta e o Conass (Conselho Nacional de Secretários de
Saúde) e Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde).
Na segunda-feira (15), haverá uma nova reunião entre as
partes para discutir o assunto, ainda em fase de maturação. Caso haja
entendimento nas próximas semanas, uma nota técnica com a nova diretriz será
publicada em breve. Um secretário estadual de saúde, falando sob condição de
anonimato, afirmou que uma nova diretriz nesse sentido seria benéfica, pois os
gestores poderiam organizar um programa prioritário de testagem e diagnosticar
os demais sem aplicação dos testes.
No entanto, esse secretário manifesta receio de que a
distribuição de testes seja abandonada ou reduzida, caso a nova diretriz entre
em vigor. A proposta de adoção do vínculo epidemiológico chegou a ser
defendida pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta no início da pandemia, em
março, antes do registro do primeiro óbito em decorrência da Covid. Mandetta questionou, na ocasião, o investimento em testes
para detectar o vírus.
"É igual falar assim: no começo passa um bicho e eu
não sei o que é. Vou lá e colho, faço um DNA e falo que é um gato. Depois que
passarem mil gatos, eu falo: 'Ele tem corpo de gato, rabo de gato, faz miau e
tem bigode'. Eu presumo que é um gato, posso dizer que passou um gato e não
preciso de teste de DNA", disse.
Com o avanço da pandemia no Brasil e a orientação da OMS
(Organização Mundial de Saúde) para promover uma grande testagem, a proposta
foi para a gaveta. O governo Jair Bolsonaro prometeu, então, uma testagem massiva da população,
mas ainda não conseguiu tirar os planos do papel.
O ministério prometeu distribuir para os estados 24 milhões
de testes do tipo RT-PCR, mais confiáveis na detecção da Covid. No entanto, até
o fim da semana passada, apenas 3,129 milhões haviam chegado a estados e
municípios, segundo informou a pasta em entrevista coletiva no Palácio do
Planalto. Desse total distribuído, apenas 752.448 foram aplicados e as mostras
encaminhadas para os laboratórios.
Técnicos da pasta argumentam que a prática já é usada para
outras doenças, como dengue e chikungunya, entre outras, e afirmam que seria
uma forma de preencher a lacuna da subnotificação. Portanto, caso esse modelo
seja adotado, deve haver uma forte alta no total de casos registrados.
No caso da Covid-19, a análise dos sintomas, de possíveis
contato com pessoas infectadas e alguns exames hospitalares seriam usados. Um técnico cita como exemplo um caso de SRAG (Síndrome
Respiratória Aguda Grave) que poderia ter sua infecção pelo vírus detectada por
radiografia do pulmão. Uma aposta para colocar em prática essa nova diretriz são
os centros de triagem. Na semana passada, o governo anunciou um programa de
liberação de R$ 1,2 bilhão para que estados e municípios criem centros de
triagem específicos para o coronavírus.
Esses postos serviriam para detectar casos leves ou
pacientes no estágio inicial da doença, evitando que aguardem o agravamento do
quadro para buscar atendimento. Embora algumas unidades devam contar com testes, a análise
por vínculo epidemiológico seria aplicada para detectar possíveis casos da
Covid e assim adotar medidas, como tratamentos e isolamento do paciente.
Com
informações da Folhapress.
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