A maternidade sempre
esteve presente em minha vida. Mesmo antes de ser mãe. Gostava de imaginar a
família grande sentada ao redor da mesa nos domingos de sol. Lembranças que
tenho da minha família e que, por gostar, desejei. Com o tempo fui percebendo
que a maternidade era mais que uma mesa cheia aos domingos. Maternidade é recomeço. É reconstrução. É uma oportunidade
de evolução. Um filho te regenera, te invade e te desespera a alma. Mas é
desse caos que me nutro para viver. Para me inspirar, me reinventar como
mulher, como profissional, como pessoa.
O primeiro filho veio de surpresa. Chorei meses achando que
não era o momento pra começar a encher a mesa aos domingos. Nem a barriga
começou a crescer e já mudei de ideia. A maternidade era tudo o que estava
faltando na minha vida. Cresci, renasci e me tornei outra pessoa com a chegada
de Pedro. O segundo filho foi pensado para o primeiro. Queria que
Pedro tivesse e soubesse o que é ter irmão — para não dizer que a necessidade
era minha... Eu precisava renascer novamente e usei a maternidade para
isso. Mariana me trouxe a paz que eu precisava e novamente a
vitalidade que me faltava.
Eu decidi ter meu terceiro filho para reconstruir uma nova
família. Francisco foi germinado na esperança de dias melhores, na
busca de uma construção de novas lembranças. Tínhamos passado por uma tragédia
muito grande após a morte do meu marido, pai dos meus filhos, no
acidente de avião da Chapecoense.
Naquele momento, o papel de mãe foi fundamental para
superar as dores e seguir. Lembro que chegava em casa destruída depois do
trabalho e tudo o que eu queria era me jogar no sofá e chorar... Mas, ao invés
de fazer isso, antes de entrar em casa, eu enxugava as lágrimas, colocava um
sorriso na cara porque os meus filhos estavam me esperando apreensivos, com
saudades, e eu era a única segurança que eles tinham para dizer que estava tudo
bem. O pai não ia mais voltar, mas a mãe estava lá inteira e feliz para tocar a
vida com eles. Maternar é revolucionário, é uma arma forte para
transformar o mundo. Produzir um ser humano é milagroso, é a experiência mais
perto das deusas que eu já vivi.
Encontrei forças que não sabia que tinha — e tudo isso por
eles e com eles. Um dia, Pedro me pegou chorando desesperada no banheiro e ele
me disse que aquele choro não combinava comigo, que eu era um elefante grande e
ele nunca tinha visto elefantes chorarem assim. Foi a frase mais linda que já
ouvi. No dia seguinte, tatuei 3 elefantes no meu braço representando eu, Pedro
e Mariana. Eles me ajudaram a me curar e me ajudam até hoje.
E assim veio Francisco, nos reconectando, formando laços e
uma nova família. Quando conheci meu marido atual, ele de pronto assumiu meus
filhos e meus filhos o assumiram como pai. Foi um processo lindo, mágico. E
nossa família começou a crescer.
Tínhamos o pai estrelinha (Cleber) e o pai adotado
(Jandir), e senti a necessidade de um elo forte entre eles. Não que precisasse,
pois já haviam estabelecido uma relação de pai e filhos. Mas assim fizemos.
Construímos o Francisco para essa nova família que estava nascendo. Eu sabia
que um bebê seria um laço entre todos nós. E foi maravilhoso, todos renascemos
com Francisco.
Nesses momento de reconstrução, de renascer e maternar, eu
também me destruo, me desabo, me culpo e carrego cada vez mais as incertezas da
maternidade. E o luto do momento “só eu”, “minhas coisas”, “meu silêncio”
persiste. Foi por meio da maternidade que aprendi a força esmagadora do patriarcado.
Mas vi que ser mãe é um ato político. É aqui que eu reconheço meu poder, me
reconecto com a minha natureza e percebo o quanto sou potente e
capaz.
Maternar é revolucionário, é uma arma forte para
transformar o mundo. Produzir um ser humano é milagroso, é a experiência mais
perto das deusas que eu já vivi. Em cada gestação eu carrego um pouco dessa
nova vida que gerei, também injeto neles um pouco de mim. Maternar foi a maneira que encontrei para me renovar, me
transformar e me encontrar. Hoje, vejo a mesa cheia todos os dias e não só nos
domingos — e isso é motivo de gratidão. Volto lá atrás quando isso ainda era só
um desejo e agradeço. Me sinto completa.
Sirli Freitas é dona do 9º depoimento do projeto Prazer,
Sou Mãe. Ela é fotógrafa e jornalista. Mãe de 3, é natural de Chapecó (SC)
e atua como fotojornalista esportiva e documental
Com
informações do HuffPost Brasil.
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